Sou colecionadora de sorrisos.É, de uns tempos para cá conto o tempo em primaveras e vou juntando as lembranças; guardando dentro de mim; colocando em um porta-retrato para que cada vez que precisar sorrir, lembrar que já fui a neta predileta da vovó. Meu lugar favorito era um jardim cheio de margaridas de um solitário que vivia na casa do lado da minha. Ir lá me fazia feliz,então sorria. Minha maluquice mascarada subitamente se anima com a ideia de refletir sobre as mesmas, e outras tantas lembranças que carrego em mim. Que fragrância assemelha-se a chuva em dia nublado, talvez leite com canela. Ou que remete a poesia cantada por um beija-flor, que sem um fruto para saborear, rouba meus sorrisos. Se ele - beija-flor - gostou ou não, eu não faço ideia; apenas sabe-se que ele comeu todos os meus sorrisos e depois recitou poemas bonitos à beça. Aceitei que o lindo pássaro rouba-se meus sorrisos, ainda que quisesse guarda-los em mim. Prefiro ficar fantasiando e criando cheiros e sabores existentes apenas em uma horta fértil do meu próprio imaginário. E lembrando dos meus antigos sorrisos.
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